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Dor de cabeça em crianças: a importância do atendimento adequado

Crianças também podem ter enxaqueca e é necessária, atenção.

A cena acontece com mais frequência do que imaginamos: uma família está andando de carro e, de repente, uma das crianças reclama de tontura, dor de cabeça ou enjoos. Não é difícil que alguns episódios de vômitos também aconteçam. O tempo passa e as queixas persistem. Algumas, cessam, outras, pioram. E, então, fica a dúvida: crianças também podem ter enxaquecas?

Sim, podem. Apesar da condição atingir com mais frequência a faixa etária dos 20 aos 50 anos e em sua maioria, mulheres, crianças também podem apresentar o quadro.

A Doutora Regiane Leal, neurologista pediátrica da NA Neurologistas Associados e membro da Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil (SBNI) explica que as queixas de dores de cabeça são mais comuns do que se imagina,
entre os pequenos: “A enxaqueca na criança é um dos principais motivos de consulta nos ambulatórios de neurologia pediátrica, e muitas vezes, é subestimada pelos pais, que demoram para valorizá-la.

Também é frequente em adolescentes e pode ter um impacto significativo na qualidade de vida. Nos Estados Unidos é considerada como uma das principais causas das faltas escolares. A enxaqueca é a principal causa de cefaleia primária em crianças, ou seja, da dor de cabeça que não é secundária a infecções, traumas, tumores etc. A segunda causa são as cefaleias tensionais”. A especialista afirma que, durante a infância e a adolescência, o problema atinge de forma igualitária, meninos e meninas:

“A prevalência varia de 5% a 40% na população pediátrica. Até a adolescência, acomete meninos e meninas na mesma intensidade, após, os casos em mulheres predominam. Também há a característica de a enxaqueca sem aura ser a forma mais comum na criança. A aura, como chamamos, acontece quando a enxaqueca é precedida ou acompanhada de sintomas visuais ou sensitivos”.

Doutora Regiane Leal, neurologista pediátrica da NA Neurologistas Associados e membro da Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil (SBNI)

Entre os sintomas mais comuns, durante as crises, estão os gastrointestinais como náuseas, dor abdominal e vômitos; sensibilidade à luz (fotofobia) ou até mesmo tontura, com períodos assintomáticos entre as crises.
Regiane Leal também ressalta que há diferenças entre os episódios em adultos: “No adulto este tipo de cefaleia costuma ser unilateral, na criança, na maioria dos casos, ela é holocraniana, ou seja, a dor acomete toda a cabeça. Também tem uma duração curta, cerca de uma hora e, os sintomas associados, podem ser leves, por isso a queixa pode ser subestimada pelos cuidadores, e o atendimento médico pode ocorrer somente depois que as crises de dor estão mais frequentes e intensas, quando o prejuízo na qualidade de vida é mais evidente”, pontua.

É possível, ainda, em muitos casos, “prever” quando a chegada da enxaqueca. É comum que a criança sinta fadiga, mudança de humor, modificação do apetite e alguma rigidez do pescoço, no entanto, na maioria das vezes, são de intensidade leve e acabam passando despercebidos pelos cuidadores.

Já as causas, são amplas, conforme diz a neuropediatra: “A enxaqueca, agora, é considerada uma doença cerebral, já que, antes, era considerada como de origem vascular. Isso significa que acontecem alterações neuroquímicas que induzem a enxaqueca. É como se fosse um cérebro hipersensível e fatores psicológicos como temperamento, ansiedade, característica da personalidade, estresse, entre outros e a influência ambiental, como o estilo de vida, atividade física, sono insuficiente, alimentação irregular, jejum prolongado ou determinados alimentos podem agir como gatilho para o início da cascata de alterações neuroquímicas, que levam à dor e aos sintomas associados”.

Ela ressalta que alguns alimentos podem dar início aos episódios de dor: “Dando destaque à alimentação, é muito comum o relato de crise de enxaqueca após a ingestão de chocolate, queijos, alimentos com corantes, glutamato monossódico, nitritos, cafeína e algumas frutas (como melancia)”.

Há, ainda, mais uma variante presente nos quadros de enxaqueca que pode, ou não, estar presente: a chamada cinetose, ou, a “doença do movimento”. Desencadeada por movimentos como os de rodar em um brinquedo como carrossel, roda gigante, ou, mais comumente associada ao transporte em carros, ônibus e outros veículos, ela é um indicativo:

“Quase 50% das crianças que apresentam cinetose, apresentam enxaqueca infantil. E muitos associam o aparecimento da cefaleia após o início da cinetose”, declara a Doutora Regiane Leal. O ideal, segundo ela, é procurar um especialista assim que os sintomas ou as queixas aparecerem, inclusive, para o descarte de alguma condição mais grave:
“Deve-se procurar o especialista quando a criança apresenta episódios frequentes de enxaqueca, mais de dois ao mês, pois, nestes casos deverá ser avaliada a instituição de tratamento profilático e para o uso durante a dor. Há casos que chamam a atenção pela gravidade, como é o que ocorre com a enxaqueca hemiplégica, com perda de força em um dos lados do corpo e que pode durar até 24 horas, ou a enxaqueca oftalmoplégica, caracterizada por queda da pálpebra, paralisia de movimentos oculares, diplopia, que é a visão dupla, e dor retro-orbitária , atrás dos olhos.”

Nesses casos, as crises podem durar dias. Outro quadro crítico é quando ocorre enxaqueca dita basilar, que causa vertigem, ataxia e estado confusional.

Para o diagnóstico correto é imprescindível a consulta com o neuropediatra, que vai avaliar a necessidade, ou não, de exames de imagens e laboratoriais, caso a caso:

“Antes de se falar em exames é necessário avaliar se o quadro clínico é compatível com enxaqueca, e posteriormente, verificar se é possível uma causa secundária para a dor. É necessário examinar o paciente em busca de sinais que sinalizem a necessidade de exames de sangue, metabólicos, e de imagem, como radiografias ou tomografia. Crianças encaminhadas ao especialista, frequentemente, já trazem um exame de imagem, mas é importante esclarecer que tumores cerebrais e de meninges são encontrados em, apenas, cerca de 1,2% dos casos. Desta maneira deve-se avaliar o paciente para saber se esse exame é necessário, pois, na criança, em muitos casos, implica em sedação para a realização do mesmo e exposição à radiação”, e completa:

“É importante que o cuidador e o paciente sejam informados do prognóstico do tratamento, e em muitos casos, da importância da mudança dos hábitos de vida, para que se evite que a enxaqueca afete o desempenho acadêmico, gere insegurança e interfira na qualidade de vida da criança ou do adolescente”, finaliza.